“Ser o Leandro da Mangueira será um imenso prazer”
Leandro Vieira fala com exclusividade ao “Samba na Rede” e revela que enredo da Mangueira para 2017 não repetirá a temática de homenagem a um artista:
Samba na Rede: Como você resumiria a transformação pela qual passou a sua vida de 2014, desde o início do trabalho na Caprichosos, até agora, na condição de campeão do carnaval?
Leandro Vieira: Mudou muito pouco. Não há diferença alguma entre o carnavalesco de Pilares e o carnavalesco da Mangueira. É o mesmo cara. As escolas é que são diferentes. Minhas propostas são as mesmas e a maneira de conduzir o trabalho se dá da mesma forma.
Samba na Rede: Que dificuldades você encontrou na Mangueira para inserir um padrão estético e de cores que não era tradicional na escola? Como conseguiu convencer a escola? estava muito diferente do que se convencionou esperar da Mangueira.
Leandro Vieira: O principal desafio não foi propor um padrão estético fora do habitual. O principal desafio foi enfrentar diariamente o meu altíssimo padrão de cobrança com o meu trabalho. Eu tinha a exata noção que a aceitação de tudo aquilo que eu propunha só seria aceita com um resultado positivo. O convencimento só se deu após o Campeonato. Até o resultado todo o trabalho podia ser questionado. A Mangueira estava muito diferente do que se convencionou esperar da Mangueira.
Samba na Rede: O quanto um tema central ter sido a vida de uma artista popular e consagrada facilitou todo o processo, desde a concepção até a aclamação pelo público?
Leandro Vieira: O tema por si só não facilita nada. O que facilita é você ter um tema que dialoga com as suas verdades. Queria um enredo que falasse de um Brasil que eu gosto: musical, religioso, interiorano e diverso. O enredo da Bethânia foi um pretexto pra falar das minhas convicções enquanto artista e brasileiro. Isso facilita muito. A Mangueira é a cara do Brasil que eu acredito e o povo se vê na Mangueira. Aclamação é ser visto.
Samba na Rede: O tema de 2017, considerando a permanência da atual diretoria, vai seguir nessa linha? É fato que estaria nos seus planos uma grande homenagem a Elza Soares?
Leandro Vieira: Não penso em seguir a tal “da linha.” Seguir linha aprisiona e rotula. Se eu puder, em 2017, quero ser outro. Sobre a homenagem a Elza Soares, nunca sugeri essa temática a Mangueira. Embora seja fã da cantora, e acredite que ela mereça todas as homenagens, não estou atrás da repetição de fórmulas tidas como certeiras. Não é porque a homenagem a Bethânia em 2016 rendeu o campeonato, que homenagear uma cantora brasileira novamente garantirá o feito. Elza merece tudo. Mas para 2017, penso em outras coisas.
Samba na Rede: O quanto o seu sucesso poderá ser uma espécie de motivação para que outras grandes escolas fujam do lugar comum e aposte em novos talentos? Quem você apontaria como grandes carnavalescos em potencial?
Leandro Vieira: Não olho para o meu trabalho com esses olhos. Tenho certa dificuldade em achar que posso ser exemplo de algo de sucesso. Esse mérito dou ao Chiquinho (Francisco de Carvalho, presidente da Mangueira), que resolveu apostar no desconhecido em meio a pior crise da história da Mangueira. Não tenho conhecimento de dirigente que tenha coragem de fazer aposta tão arriscada. O lugar comum é mais seguro. O meio é conservador e não é dado a oportunidades. O João Vitor Araújo é um dos talentos que mais admiro. Merece a oportunidade de estar à frente de uma escola estruturada.
Samba na Rede: Todo esse processo, de carta forma inusitado, que te conduziu à condição de carnavalesco da Mangueira, somando-se a isso o grande resultado obtido, fez nascer um casamento que pode ser muito duradouro, assim como foi Joãosinho na Beija-Flor ou Renato Lage no Salgueiro?
Leandro Vieira: Não crio expectativas. Não sou dado a esse tipo de pensamento. Não desejei a ida para Pilares, assim como nunca imaginei que seria carnavalesco da Mangueira. Estava muito satisfeito com a condição de figurinista e trabalhar no bastidor do carnaval estava de bom tamanho. O resultado desse ano soma de forma positiva, o do ano que vem pode somar ou não. De um modo geral a qualidade do profissional de Carnaval é julgada pelo resultado. Estu nisso faz tempo e já vi grandes nomes serem tachados de ultrapassados por um único trabalho que não alcançou o resultado esperado. Se eu puder continuar contribuindo para o sucesso da Mangueira, quero estar lá. Se eu puder escrever uma história vitoriosa tal qual o João fez na beija, a Rosa na imperatriz e o Renato na Mocidade, ser o Leandro da Mangueira será um imenso prazer.
Credito: Ricardo Almeida